Repercussão da Pandemia de COVID-19 nos Serviços de Saúde e na Saúde Mental dos Profissionais dos Cuidados de Saúde Primários

Introdução: A pandemia de COVID-19 forçou a reorganização dos serviços dos cuidados de saúde primários. Com este estudo pretendemos descrever como responderam os serviços de saúde às solicitações organizacionais, como envolveram e apoiaram os seus colaboradores; como os profissionais percecionaram o seu envolvimento nos procedimentos e que apoio lhes foi fornecido. Pretendemos também avaliar os níveis de ansiedade e depressão dos profissionais e a sua associação não só com o apoio sentido pelos profissionais, mas também com a disponibilidade de equipamentos de proteção individual e com o seu envolvimento nas tarefas relacionadas com a pandemia.
Material e Métodos: Estudo transversal analítico dirigido aos profissionais de três agrupamentos de centros de saúde usando um questionário online. Colhemos dados sociodemográficos, informação sobre o acesso a equipamento de proteção individual, apoio percecionado, carga de trabalho e níveis de ansiedade e depressão. Entre cada variável e os níveis de ansiedade e depressão aplicou-se regressão logística multivariada.
Resultados: Responderam 237 profissionais (83,8% mulheres; idade média 43,7 anos; 43,2% de médicos). Quase 60% trabalhou com doentes COVID-19. A disponibilidade de equipamento de proteção individual em março versus junho de 2020 aumentou (17,7% vs 55,3%). Existia plano de gestão do risco em 86% dos locais. Identificou-se uma alta carga de trabalho (90%) e pressão do tempo (74,6%). Médicos e enfermeiros apresentavam maior prevalência de depressão associada à carga de trabalho e fadiga (p < 0,001). Ter espaço para falar dos problemas, apoio sentido perante esses problemas e dispor na unidade de saúde de um espaço para relaxar foram alguns fatores protetores de ansiedade. Foi encontrado menor riso de depressão no grupo do secretariado clínico, nos profissionais que se sentiram apoiados, e nos que tiveram participação ativa nos planos de contingência.
Conclusão: A pandemia de COVID-19 levou a grandes alterações na dinâmica dos CSP. A pressão do tempo para realização de tarefas e a concentração exigida associaram-se a maior risco de desenvolvimento de patologia mental. O apoio sentido pelos profissionais perante os seus problemas e preocupações, e a existência de espaços para relaxar nas USF foram identificados como fatores protetores. A promoção da saúde, a manutenção dos contactos sociais dos profissionais e o seu envolvimento nos processos deverão ser tidos em conta na dinâmica organizacional das instituições.

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